quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sabedoria

Muito tenho indagado aos amigos sobre João Cabral de Melo Neto, e as respostas em sua maioria pouco efusivas. Não conhecem, ou não tem paciência para ler poesia. Fico chateado, porque para mim, ele é um dos marcos da literatura/poesia brasileira. Antes dele na minha visão, a poesia era como que inatingível, linguajar difícil, sem ritmo.
Mas a ladainha de João Cabral, esse turbilhão de imagens que arrombam as retinas, o estomago e a alma faz dele um Severino, um Jão, com uma sabedoria imensa.
Por isso, escrevo como sabedoria e não poesia. A partir de agora, vou colar excertos desse craque de bola e de poesia, de ritmo e rima, um rapper do século XX, ritmo e poesia, c tah ligado?

O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.

Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Poesia

Entre nós
o desejo
Entre nós
nosso tempo

Não vá me deixar
sem seu beijo
Se tudo o que há
não é muito mais
do que o momento

Quanto mais
eu te quero
Mais sei esperar
Eu espero