segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Liberdade
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
– Fernando Pessoa
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Depois da tempestade, flores voltam a surgir
Mas quando a tempestade demora a passar
A vida até parece fora do lugar
Não perca a fé em Deus, fé em Deus
Que tudo irá se acertar
Pois o sol de um novo dia vai brilhar
E essa luz vai refletir na nossa estrada
Clareando de uma vez a caminhada
Que nos levará direto ao apogeu
Tenha fé, nunca perca a fé em Deus
Pra quem acha que a vida não tem esperança
Fé em Deus
Pra quem estende a mão e ajuda a criança
Fé em Deus
Pra quem acha que o mundo acabou
Pra quem não encontrou um amor
Tenha fé, vá na fé
Nunca perca a fé em Deus
Pra quem sempre sofreu e hoje em dia é feliz
Fé em Deus
Pra quem não alcançou tudo que sempre quis
Fé em Deus
Pra quem ama, respeita e crê
E pra aquele que paga pra ver
Tenha fé, vá na fé
Nunca perca a fé em Deus
Aquilo que não mata só nos faz fortalecer
Vivendo aprendi que é só fazer por merecer
Que passo a passo um dia a gente chega lá
Pois não existe mal que não possa acabar
Não perca a fé em Deus, fé em Deus
Que tudo irá se acertar
Pois o sol de um novo dia vai brilhar
E essa luz vai refletir na nossa estrada
Clareando de uma vez a caminhada
Que nos levará direto ao apogeu
Tenha fé, nunca perca a fé em Deus
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Cidadão
Composição: Lucio Barbosa
Tá vendo aquele edifício moçoAjudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...
Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...
Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"
Hié! Hié! Hié! Hié!
Hié! Oh! Oh! Oh!
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia!
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Homenagem a Saramago e ao Ensaio sobre a Cegueira:
Vocês têm as mãos manchadas de sangue e os dedos sujos de crimes;
vocês só sabem contar mentiras, e os seus lábios estão dizendo coisas que não prestam.
Não é para procurar a justiça que vão ao tribunal, e ninguém diz a verdade ao juiz.
Todos confiam em mentiras e falsidades;
inventam maldades e praticam crimes.
Os seus planos perversos são como os ovos de uma cobra venenosa:
quem come os ovos morre, e, se um se quebra,
dele sai outra cobra venenosa.
Os seus planos não prestam para nada;
parecem teias de aranha;
elas não servem para fazer roupa, e ninguém pode se vestir com elas.
Tudo o que vocês fazem é mau, todas as suas ações são criminosas.
Vocês correm para fazer o que é errado e se apressam para matar pessoas inocentes;
vocês pensam somente em maltratar os outros e, por onde passam, deixam a destruição e desgraça.
Não conhecem o caminho da paz, e todas as suas ações são injustas.
Vocês preferem seguir caminhos errados e por isso não tem segurança.
Deus ainda não nos salvou, pois temos pecado, e por isso ele demora em nos socorrer.
Procuramos a luz, mas só encontramos a solidão;
buscamos lugares claros, mas continuamos nas trevas.
Andamos apalpando as paredes como se fôssemos cegos, como se não tivéssemos olhos;
ao meio-dia tropeçamos como se fosse de noite, e, em plena flor da idade, parecemos mortos.
Rugimos como ursos assustados, gememos como pombas;
esperamos a salvação, porém ela demora;
desejamos socorro, mas ela está longe de nós.
A verdade desapareceu, e os que procuram ser honestos são perseguidos.
Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto:
Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz
Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje
Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério
Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento
Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos
Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia
Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome
Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água
Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas
Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar
Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates
Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome
Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas
Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos
Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia
Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias
Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto
Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora
Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração
Eu não tinha boa memória
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão
Tínhamos um rio
Agora somos parte dele
É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus
Vamos começar de novo.
Anônimo
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
Poesia
Atire a primeira pedra
Quem não sofreu, quem não morreu por amor
Todo corpo que tem um deserto
Tem um olho de água por perto
Para ouvir basta abrir os poros
Para aceitar basta oferecer
Para que adiar um desejo
De alguém que lhe quer tanto beijo
Quem de vocês
Resiste a uma tentação
Quem pretende revogar a lei do coração
Quem ousaria
Dessas vozes duvidar
Deixa a sua natureza se manifestar
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Muito tenho indagado aos amigos sobre João Cabral de Melo Neto, e as respostas em sua maioria pouco efusivas. Não conhecem, ou não tem paciência para ler poesia. Fico chateado, porque para mim, ele é um dos marcos da literatura/poesia brasileira. Antes dele na minha visão, a poesia era como que inatingível, linguajar difícil, sem ritmo.
Mas a ladainha de João Cabral, esse turbilhão de imagens que arrombam as retinas, o estomago e a alma faz dele um Severino, um Jão, com uma sabedoria imensa.
Por isso, escrevo como sabedoria e não poesia. A partir de agora, vou colar excertos desse craque de bola e de poesia, de ritmo e rima, um rapper do século XX, ritmo e poesia, c tah ligado?
O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Entre nós
o desejo
Entre nós
nosso tempo
Não vá me deixar
sem seu beijo
Se tudo o que há
não é muito mais
do que o momento
Quanto mais
eu te quero
Mais sei esperar
Eu espero
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
4 insights sobre mídia, psicologia e consumo
Para ler:
- Guy Debord, A sociedade do espetáculo, Contraponto, 1997.
- Isleide Fontenele,O nome da marca:McDonald's, fetichismo e cultura descartável,Boitempo,2002.
- Susan Linn, Crianças do consumo - a infância roubada, Instituto Alana, 2006.
- Zygmunt Bauman,Vida para o consumo:a transformação das pessoas em mercadoria,Zahar,2008.
Para assistir:
- 1,99-Um supermercado de palavras, 1999.
- Super size me-A dieta do palhaço, 2005.
- Ilha das flores, 1989.
- O informante (The insider), 1999.
Para acessar:
- Projeto criança e consumo-Instituto Alana
- Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
- Revista ESPM Comunicação, Mídia e Consumo
- CFP-Contribuição da Psicologia para o fim da publicidade dirigida à criança
Poesia
Why must our children play in the streets,
broken hearts and faded dreams,
peace and love to everyone that you meet,
don't you worry, it could be so sweet,
just look to the rainbow, you will see,
sun will shine 'till the eternity,
I've got so much love in my heart,
no one can tear it apart,
Yeah.
Be the love generation,
Yeah, yeah, yeah,
Be the love generation,
Don't worry about a thing, gonna be alright
Don't worry about a thing, gonna be alright
Gonna be, oh, gonna be - gonna - gonna be alright!